O Cenário de Guerra Urbana
A Zona Norte do Rio de Janeiro amanheceu sob o som de intensos tiroteios nesta terça-feira, 26 de agosto. Uma operação da Polícia Civil, com o apoio do Batalhão de Operações Especiais (Bope), foi deflagrada com o objetivo de conter a escalada da violência em comunidades como a Serrinha, o Juramento, o Campinho e o Fubá. A ação, nomeada como “Operação Contenção”, visa desarticular as disputas territoriais que vêm ocorrendo entre o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP). Segundo relatos de moradores, os confrontos armados, que utilizam armamento pesado, granadas e explosivos, transformaram a rotina local em um verdadeiro cenário de guerra.
A violência não é um fato isolado e tem se intensificado nos últimos meses. De acordo com a Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Capital (DRE-CAP), a disputa é por poder e território. De um lado, o TCP, liderado por criminosos como Wallace de Brito Trindade, o “Lacoste”, e William Yvens da Silva, o “Coelhão”, busca expandir sua atuação a partir da Serrinha. Do outro, o Comando Vermelho, sob a chefia de Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, promove ataques para retomar e dominar áreas estratégicas na região.
As Vítimas Inocentes da Guerra de Facções
As consequências desses conflitos extrapolam os limites das facções criminosas e atingem diretamente a população. A Polícia Civil destaca que os confrontos são a causa de uma série de homicídios e ataques que resultam em mortes de inocentes. Em maio deste ano, uma mulher de 56 anos perdeu a vida em um tiroteio no Morro do Juramento, vítima de uma bala perdida. Um mês depois, em junho, um trabalhador morreu no Morro do Fubá enquanto recolhia ferro-velho, atingido durante um dos confrontos.
Além das perdas de vida, a violência impõe um “toque de recolher” que paralisa a rotina das comunidades. Escolas e unidades de saúde são frequentemente fechadas, e o comércio local sofre com a interrupção das atividades. A sensação de insegurança e o medo constante afetam o bem-estar dos moradores, que se veem obrigados a viver sob o domínio do tráfico de drogas e em meio a uma disputa que não lhes pertence. A ação policial, embora necessária, busca mitigar um problema crônico que afeta a segurança pública de toda a cidade.
Perfis dos Líderes do Tráfico na Zona Norte
As investigações policiais e o trabalho de inteligência do Disque Denúncia revelaram detalhes sobre os líderes envolvidos na disputa. Wallace Brito Trindade, o “Lacoste”, é a principal figura do tráfico no Complexo da Serrinha, em Madureira. O Portal dos Procurados oferece uma recompensa de R$ 1 mil por informações que levem à sua prisão. Lacoste comanda um grupo que, segundo o Disque Denúncia, domina cinco favelas na região e fatura mais de R$ 700 mil por mês com a venda de drogas e a posse de centenas de fuzis. William Yvens da Silva Rios, o “Coelhão”, é apontado como braço direito de Lacoste e responsável por coordenar ataques a comunidades rivais e assaltos na região.
Do lado do Comando Vermelho, Edgar Alves de Andrade, o “Doca”, é um dos traficantes de mais alto escalão em atividade e um dos mais procurados do Rio de Janeiro. Sua facção, conhecida como “Tropa do Urso”, é responsável por uma série de invasões em comunidades da Zona Norte. Doca possui mais de 24 mandados de prisão em aberto e é uma figura central em crimes de grande repercussão nacional.
A Sombra de Crimes Brutais
O nome de Edgar Alves de Andrade, o “Doca”, está ligado a crimes que chocaram o país. Ele é acusado de ter tido participação no desaparecimento e na morte de três meninos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, em 2021. De acordo com o inquérito policial, uma testemunha afirmou que um dos executores, conhecido como ‘Stala’, tinha autorização de Doca para cometer o crime. Após o caso ganhar repercussão, o próprio Doca teria assassinado ‘Stala’ e outros envolvidos no crime, em um ato de queima de arquivo que demonstra sua brutalidade.
O criminoso também foi investigado pelo feminicídio de Bianca Lourenço, de 24 anos, na Penha, na mesma época. A polícia descobriu que a jovem foi morta a mando do próprio Doca, após seu ex-namorado, Dalton Vieira Santana, subordinado a ele, não aceitar o fim do relacionamento. Bianca foi torturada e assassinada após visitar uma amiga na comunidade. Além disso, Doca chegou a ser investigado por um plano audacioso de rapto de um helicóptero, em setembro de 2021, que pretendia resgatar presos da penitenciária de Bangu.
Conclusão
A operação policial na Zona Norte do Rio de Janeiro é uma resposta direta à escalada da violência que tem se mostrado implacável e mortal. As disputas territoriais entre facções rivais transformaram comunidades inteiras em campos de batalha, e as principais vítimas são os moradores, que perdem a liberdade e, muitas vezes, a vida. A presença de líderes criminosos com histórico de brutalidade, como Doca, ressalta a urgência e a complexidade do problema da segurança pública no estado. A ação policial de hoje, embora importante, demonstra que a luta contra o crime organizado é constante e exige um esforço contínuo para devolver a paz e a segurança às áreas mais afetadas da cidade.
Com informações do site: O Dia
