A menos de uma semana da implementação de novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, e sem indícios de avanços nas negociações com a Casa Branca, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) direcionou suas críticas a Jair Bolsonaro (PL) e à influência de seus aliados sobre o ex-presidente americano Donald Trump. As declarações de Lula ocorreram nesta sexta-feira, 25 de julho de 2025, em um cenário de intensas discussões políticas e diplomáticas sobre as relações entre os dois países. Paralelamente, os filhos do ex-presidente Bolsonaro intensificaram suas demandas por anistia e impeachment de autoridades brasileiras, gerando mais um ponto de fricção no cenário político.
Posicionamento do Centrão diante da crise
Enquanto o embate político se acirra, parlamentares do chamado Centrão têm optado por uma postura de distanciamento em relação ao conflito direto sobre as tarifas americanas. Aproveitando o recesso não oficial do Congresso Nacional, muitos estão em viagens ou focados em articulações políticas voltadas para as eleições de 2026 em suas bases eleitorais. A postura do Centrão reflete uma estratégia de evitar se envolver em uma disputa percebida como polarizada entre os grupos de esquerda e de direita, buscando preservar sua posição política. Embora tenham contribuído para a aprovação da Lei da Reciprocidade, a qual permite a retaliação comercial a países que impõem barreiras ao Brasil, os parlamentares desse bloco têm evitado a linha de frente nas discussões sobre o “tarifaço”, evitando comprar uma briga exclusiva de qualquer um dos lados.
Acusações de Lula e tentativas de diálogo
Em um pronunciamento com tom direto, o presidente Lula afirmou que Donald Trump teria sido “induzido a uma mentira” pelos aliados de Bolsonaro. Segundo o presidente, caso tivesse havido um contato direto, ele teria a oportunidade de esclarecer a situação. “Se o presidente Trump tivesse me ligado, eu explicaria o que está acontecendo. Ele foi induzido a acreditar numa mentira de que o Bolsonaro está sendo perseguido. Não está. Ele está sendo julgado, com todo o direito de defesa”, disse Lula, sublinhando que as questões judiciais envolvendo Bolsonaro são processos legais e não perseguição política.
Ministros do governo federal admitem que há uma obstrução política que tem dificultado as tentativas de diálogo com Washington. Eles reconhecem a margem de manobra limitada para reverter o cenário atual. Lula também fez um reconhecimento público ao esforço diplomático do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), que tem atuado nas negociações com os americanos. “Ninguém pode dizer que o Alckmin não quer conversar. Todo dia ele liga para alguém e ninguém quer conversar com ele”, declarou o presidente, destacando a dificuldade em estabelecer um canal efetivo de comunicação com as autoridades americanas.
Troca de símbolos e radicalização do discurso
Em um gesto simbólico, o presidente Lula ergueu uma bandeira do Brasil ao lado de seus ministros e aliados, em uma clara resposta a uma ação anterior de deputados bolsonaristas que haviam exibido uma bandeira de Donald Trump dentro da Câmara dos Deputados. Fazendo uma referência indireta aos filhos de Bolsonaro, o presidente criticou a atitude, afirmando que “Estão trocando o Brasil pelo pai”. Essa troca de símbolos e declarações públicas reflete a polarização política em curso no Brasil, com grupos se identificando cada vez mais com figuras políticas internacionais.
Enquanto isso, a ala bolsonarista no Congresso Nacional tem apostado em uma radicalização do discurso. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) defendeu que a reversão da inelegibilidade de seu pai seria a solução para a crise com os Estados Unidos. “A solução está aqui no Brasil. Se a gente fizer as eleições com Jair Bolsonaro nas urnas, acaba a sanção no mesmo dia. A maior democracia do mundo não vai nos tratar como Venezuela”, afirmou o senador, relacionando diretamente a crise diplomática à situação jurídica de Jair Bolsonaro.
Pressão e repercussões no Congresso
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por sua vez, intensificou a pressão para a votação de um projeto de anistia para seu pai e outros investigados em casos relacionados à suposta tentativa de golpe de Estado, além de cobrar o andamento do pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Eduardo Bolsonaro chegou a sugerir que os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), poderiam ter seus vistos suspensos e enfrentar sanções dos EUA caso não atendessem às demandas do grupo.
Procurados para comentar as declarações, os presidentes das Casas Legislativas optaram por não se manifestar publicamente. Nos bastidores, lideranças políticas avaliam que as declarações de Eduardo Bolsonaro são interpretadas como uma forma de pressão, mas não possuem perspectiva de prosperar. A tendência é que tanto o projeto de anistia quanto o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes permaneçam paralisados no Congresso. Há relatos de que mesmo senadores alinhados ao bolsonarismo estariam desconfortáveis com a escalada retórica de Eduardo Bolsonaro. Uma delegação de senadores, que inclui membros da direita, tem viagem marcada para Washington neste fim de semana, mas tem evitado divulgar a agenda oficial, temendo possíveis boicotes.
Cenário atual e perspectivas diplomáticas
No momento, o governo brasileiro não considera a possibilidade de um contato direto entre o presidente Lula e Donald Trump, nem planeja o envio de uma comitiva oficial a Washington para as negociações. Com poucas opções diplomáticas à disposição, a estratégia atual do governo se concentra em articulações com o setor privado dos Estados Unidos. A expectativa é que essas negociações possam, pelo menos, adiar a aplicação das tarifas, o que já seria considerado uma vitória política significativa diante da complexidade do cenário atual. A crise tarifária impõe desafios importantes à diplomacia brasileira, que busca evitar um impacto ainda maior nas relações comerciais e políticas com os Estados Unidos.
Com informações do site: CNN Brasil