A Polícia Civil de São Paulo realizou, na manhã deste sábado, 26 de julho de 2025, o cumprimento de mandados de busca e apreensão direcionados a policiais militares da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). O objetivo da ação é coletar evidências relacionadas à morte do investigador da Polícia Civil Rafael Moura da Silva, ocorrida na favela do Fogaréu, na Zona Sul da capital paulista. O incidente, que resultou na morte do investigador, foi registrado por uma câmera corporal de um dos policiais militares envolvidos, fornecendo um elemento crucial para as investigações em curso.
Alvos da investigação e indiciamentos
Os principais alvos da investigação são o sargento Marcus Augusto Costa Mendes, apontado como o autor dos disparos que atingiram o investigador Rafael Moura, e Robson Santos Barreto, outro policial da Rota que participava da operação. A Polícia Civil indiciou o sargento Mendes por homicídio doloso, caracterizado pela intenção de matar e qualificado pela impossibilidade de defesa da vítima, em relação à morte de Rafael. Além disso, o sargento também foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado, por ter atingido o policial Marcos Santos de Souza durante a mesma ação.
Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos nas residências dos policiais envolvidos e em seus respectivos armários dentro do quartel da Rota. Com o sargento Marcus Augusto, foram apreendidos um aparelho celular, um notebook e a arma da corporação. Já com o policial Robson Santos Barreto, a polícia recolheu um celular e um notebook. O material apreendido passará por perícia, e a expectativa é que os dados contidos nos dispositivos eletrônicos possam oferecer novas informações sobre a dinâmica dos fatos e as circunstâncias que levaram à morte do investigador.
Decisões judiciais e investigações paralelas
Apesar do pedido de prisão feito pela Polícia Civil para os dois militares, a Justiça negou a solicitação. Contudo, foi mantido o afastamento cautelar de ambos os policiais de suas funções por um período de 90 dias. Paralelamente à investigação da Polícia Civil, a Corregedoria da Polícia Militar também está conduzindo um inquérito administrativo para apurar a conduta dos agentes envolvidos no incidente, buscando determinar se houve falhas nos procedimentos operacionais padrão da corporação.
O incidente na favela do Fogaréu
O trágico incidente que resultou na morte do investigador Rafael Moura, de 38 anos, ocorreu em 11 de julho, durante uma operação na favela do Fogaréu, localizada na região do Campo Limpo. No dia do ocorrido, equipes da Rota e da Polícia Civil estavam atuando na mesma área da comunidade, porém, sem que uma soubesse da presença da outra. Essa falta de comunicação entre as equipes, que atuavam de forma independente, é um dos pontos centrais da investigação.
As imagens registradas pela câmera corporal do sargento Marcus Augusto, obtidas pela TV Globo, mostram o policial correndo em direção a um portão preto por volta das 17h42. Em seguida, ele abre o portão com uma chave e continua a correr para dentro da comunidade. Pouco tempo depois, ocorrem os disparos que atingiram o investigador Rafael Moura. De acordo com as imagens e relatos, o investigador se identifica como “polícia”, mas o sargento prossegue com os tiros. Segundo a defesa da família de Rafael, o policial civil teria gritado sua identificação antes de ser baleado. Após os primeiros disparos, gritos de “É polícia! É polícia!” puderam ser ouvidos por parte dos colegas da vítima, tentando alertar sobre a identidade do indivíduo.
O investigador Rafael Moura foi atingido por três tiros, sendo dois deles na região do tórax. Ele foi socorrido e levado ao Hospital das Clínicas, em São Paulo, mas, infelizmente, faleceu cinco dias após a internação devido à gravidade dos ferimentos. Um outro policial civil, Marcos Santos de Sousa, também foi ferido de raspão durante a ação.
Divergências nas versões e o papel das imagens
As versões apresentadas pelas defesas dos envolvidos divergem significativamente. O advogado criminalista Marcus Vinicius, que representa a família do investigador Rafael Moura, afirmou em entrevista que as imagens da câmera corporal indicam uma conduta inadequada por parte do sargento da Rota. “Analisando as imagens, é possível ouvir as verbalizações do Rafael após os dois primeiros disparos, deixando claro que era policial. Mesmo assim, houve mais dois tiros. A defesa entende que a ação foi irregular”, afirmou o advogado, questionando a sequência dos eventos e a resposta do sargento após a identificação.
Outro ponto levantado pela defesa da família é a forma como o policial da Rota encontrou uma chave e soube onde utilizá-la. No termo de declaração anexado ao processo, o policial Marcos disse ter encontrado uma chave jogada no chão e deduzido que ela poderia abrir um portão de ferro que funcionava como barricada para a entrada de um beco, conhecido ponto de tráfico de drogas. Contudo, o advogado da família de Rafael aponta uma discrepância: “Chamou a atenção, pois no termo de declarações, ele disse que ele encontrou essa chave no escadão e ingressou na porta da comunidade após ver um vulto. E aí sim, ele saiu correndo. Mas ao observar as imagens, a gente percebe que ele sai do escadão, acessa a rua e já vai correndo em direção ao portão. Em nenhum momento ele deixa de correr. Ele está sempre correndo. Ele só para quando ele faz o acesso para abrir esse portão e aí continua correndo dentro da comunidade”, disse o advogado, indicando que a dinâmica da entrada pode não ter ocorrido exatamente como relatado inicialmente.
Por outro lado, a defesa do sargento Marcus Augusto Costa Mendes sustenta que ele agiu de acordo com os procedimentos operacionais. “O vídeo mostra claramente que os disparos foram feitos antes de qualquer verbalização indicando que havia outro policial no local. Além disso, o distintivo do investigador não estava visível — foi encontrado dentro da camiseta, nas costas dele, quando já recebia os primeiros socorros”, argumentou o advogado de defesa do sargento, sugerindo que a identificação do investigador não era clara no momento dos tiros.
Contexto de operações policiais e comunicação interinstitucional
Este incidente trágico ressalta a complexidade e os riscos inerentes às operações policiais em áreas urbanas densas, especialmente quando diferentes corporações atuam sem uma coordenação prévia e eficaz. A falta de comunicação entre as equipes da Polícia Civil e da Polícia Militar, um fator recorrente em alguns incidentes, pode levar a cenários de “fogo amigo” e a consequências devastadoras. A importância de protocolos claros de identificação e comunicação interinstitucional em ambientes de alta tensão é crucial para evitar futuros acidentes. A investigação buscará não apenas as responsabilidades individuais, mas também possíveis falhas sistêmicas que possam ter contribuído para a ocorrência.
Conclusão e impactos da investigação
A investigação sobre a morte do investigador Rafael Moura da Silva é de extrema importância para a Polícia Civil e para a Polícia Militar, dadas as graves implicações do incidente. Os resultados das perícias nos materiais apreendidos, juntamente com a análise detalhada das imagens da câmera corporal, serão fundamentais para esclarecer as circunstâncias da morte e determinar as responsabilidades. O caso, que já resultou no indiciamento por homicídio doloso, continua sob análise da Justiça e da Corregedoria, e seus desdobramentos podem ter impactos significativos nas diretrizes e protocolos de segurança para operações conjuntas das forças policiais no estado de São Paulo, visando aprimorar a coordenação e evitar futuras tragédias.
Com informações do site: G1
