Dois indivíduos considerados líderes do Comando Vermelho (CV), uma das maiores facções criminosas do Brasil, foram transferidos na manhã deste sábado, 26 de julho de 2025, do presídio de segurança máxima de Bangu 1, no Rio de Janeiro, para a Penitenciária Federal de Catanduvas, localizada no Paraná. Luiz Cláudio Machado, conhecido como “Marreta”, e Aleksandro Rocha da Silva, o “Sam do Caicó”, são classificados pelas autoridades como presos de altíssima periculosidade. Ambos estavam isolados em celas individuais antes da medida de segurança, que visa desarticular a influência deles no sistema prisional fluminense e na criminalidade organizada do estado.
O retorno de “Marreta” e a reação governamental
A transferência de “Marreta” é um movimento que reverte uma decisão anterior. Ele havia retornado ao Rio de Janeiro em outubro de 2023, após uma determinação da Vara de Execuções Penais (VEP) fluminense que autorizou o retorno de diversos líderes de facções criminosas ao estado de origem. Essa decisão, contudo, gerou uma forte reação por parte do governo do Rio de Janeiro, que, por meio de novos relatórios de inteligência, solicitou à Justiça e ao Ministério Público a remoção desses indivíduos de volta para o sistema prisional federal. O retorno de “Marreta” e “Sam do Caicó” a Catanduvas é parte dessa estratégia do governo estadual para tentar enfraquecer a atuação do crime organizado, limitando a capacidade de comunicação e comando desses líderes a partir de dentro das prisões.
Histórico criminal e condenações dos detentos
“Marreta” e “Sam do Caicó” possuem longos históricos criminais e somam um alto número de anos em condenações. Luiz Cláudio Machado, o “Marreta”, acumula 133 anos e 4 meses de pena por uma série de crimes, incluindo roubo, sequestro e associação criminosa. Ele é apontado pelas autoridades como o mentor da tomada da Praça Seca, área do Rio de Janeiro antes dominada por milicianos, em um evento que ocorreu em 2010. Além disso, “Marreta” teve um papel central na queda de um helicóptero da Polícia Militar durante a invasão do Morro dos Macacos, em 2009, um episódio que resultou na morte de três policiais.
Já Aleksandro Rocha da Silva, o “Sam do Caicó”, foi condenado a 147 anos e 3 meses por crimes graves como homicídio, ocultação de cadáver, tráfico de drogas e roubo. Ele é reconhecido como ex-chefe do CV na localidade conhecida como Covanca e responde por mais de uma dezena de homicídios. A extensão de suas condenações reflete a gravidade dos crimes atribuídos a ambos e a sua periculosidade, características que justificam a necessidade de mantê-los em presídios de segurança máxima.
Influência de dentro da prisão e a logística da transferência
Apesar de estarem detidos, “Marreta” já foi flagrado exercendo influência sobre as operações do Comando Vermelho. Em uma conversa interceptada pela Polícia Federal, mesmo estando sob custódia no sistema federal, ele negociava a compra de fuzis e expressava críticas aos preços das armas, mencionando modelos específicos como AR-15 e M4. Esses registros demonstram a persistente capacidade de comunicação e coordenação de atividades criminosas mesmo de dentro das unidades prisionais, o que reforça a justificativa para a transferência para um regime de segurança ainda mais rigoroso.
Segundo informações divulgadas pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), o embarque dos detentos ocorreu por volta das 6h15 da manhã deste sábado, no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. A operação de transferência foi realizada sob um forte esquema de segurança para garantir a integridade do processo e evitar qualquer intercorrência. A custódia dos presos passou a ser responsabilidade da Polícia Penal Federal imediatamente após a chegada à Penitenciária Federal de Catanduvas, reforçando o rigor do regime de segurança.
Estratégia de segurança e comitê de inteligência
A medida de transferência faz parte de uma estratégia mais ampla do governo do estado do Rio de Janeiro para minar a atuação de facções criminosas a partir dos presídios fluminenses. Em outubro de 2023, o governador Cláudio Castro (PL), em conjunto com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), anunciou a criação de um comitê de inteligência. O principal objetivo desse comitê é identificar detentos que, por sua alta periculosidade e capacidade de liderança, devem ser transferidos para presídios federais, onde as condições de isolamento e controle são mais rigorosas. A lista inicial de alvos incluía pelo menos 30 nomes de indivíduos considerados de alto risco para a segurança pública.
Relembrando a fuga de “Marreta” em 2013
A trajetória criminal de “Marreta” inclui uma notória fuga em 2013, classificada como cinematográfica. Naquela ocasião, ele escapou por um túnel de esgoto do Instituto Penal Vicente Piragibe, localizado no Complexo de Gericinó, no Rio de Janeiro, em conjunto com outros 26 detentos. Após a fuga, ele passou a comandar à distância as operações do Comando Vermelho, mantendo sua influência sobre a organização criminosa. A recaptura de “Marreta” ocorreu em dezembro de 2014, no Paraguai, por meio de uma operação binacional que demonstrou a complexidade e o alcance de suas atividades.
Conclusão e o impacto na segurança pública
A transferência de “Marreta” e “Sam do Caicó” para um presídio federal de segurança máxima representa um passo significativo nas ações do estado do Rio de Janeiro contra o crime organizado. A medida visa reduzir a capacidade de comunicação e comando desses líderes sobre suas facções, o que, espera-se, contribua para a desarticulação de suas redes criminosas e para a diminuição da violência nas ruas. A persistência de líderes criminosos em comandar atividades de dentro das cadeias sublinha a importância de um sistema prisional com altos padrões de segurança e inteligência. A efetividade dessas transferências será um indicativo da capacidade das autoridades em manter a ordem e a segurança pública frente aos desafios impostos pelas organizações criminosas.
Com informações do site: G1
