O tecido ósseo, uma estrutura complexa e dinâmica, é composto por células especializadas como osteócitos, osteoblastos e osteoclastos, além de componentes orgânicos — colágeno e glicoproteínas — e elementos inorgânicos, como fósforo, cálcio e cristais de hidroxiapatita. Contudo, suas funções vão muito além do suporte e da movimentação do corpo. Uma de suas responsabilidades menos óbvias, mas igualmente vitais, é a sua função endócrina, essencial para a regulação de diversos processos metabólicos.
O papel multifacetado do tecido ósseo
Tradicionalmente conhecido por suas capacidades de sustentação, proteção de órgãos e movimentação, o tecido ósseo desempenha outras funções cruciais para a manutenção da saúde. Ele é, por exemplo, o local de produção de células sanguíneas, um processo vital conhecido como hematopoiese. Além disso, e fundamental para o foco deste artigo, o tecido ósseo atua diretamente na regulação do metabolismo de cálcio e fósforo no organismo. Essa regulação ocorre por meio da secreção de hormônios como o paratormônio e a vitamina D, que atuam em conjunto para manter o equilíbrio mineral, destacando assim o seu papel como um órgão com função endócrina. Segundo o endocrinologista e clínico geral Luiz Carlos de Paiva Nogueira da Silva, do Hospital Israelita Albert Einstein, essa complexa interação sublinha a importância da saúde óssea para o bem-estar geral.
Fatores determinantes para a saúde óssea
A manutenção de um sistema ósseo saudável depende de uma combinação de fatores ao longo da vida. A prática regular de exercícios físicos, desde a infância, é um pilar fundamental, pois o impacto e o estresse mecânico estimulam a formação óssea. Fatores genéticos e hormonais também desempenham um papel significativo, influenciando a densidade e a qualidade do osso. Adicionalmente, uma dieta adequada, rica em nutrientes essenciais como cálcio, fósforo, magnésio e, crucialmente, vitamina D, é indispensável para a absorção e utilização desses minerais.
O pico de massa óssea é geralmente atingido entre os 20 e 30 anos de idade, sendo comum que ocorra mais cedo em mulheres. Após essa fase, há uma perda progressiva e natural de tecido ósseo ao longo da vida. Quando essa perda se acelera ou se torna mais acentuada, a densidade óssea pode diminuir significativamente, levando a condições como a osteopenia, que é uma fase inicial de perda óssea, ou a osteoporose, uma doença mais grave que compromete a resistência dos ossos.
Osteoporose: uma doença silenciosa e seus fatores de risco
A osteoporose é uma condição que afeta significativamente mais mulheres do que homens e é frequentemente caracterizada como uma doença silenciosa, pois não apresenta sintomas óbvios em seus estágios iniciais. Fatores genéticos, hormonais e ambientais contribuem para o seu desenvolvimento. Indivíduos com histórico familiar da doença apresentam uma maior probabilidade de manifestá-la precocemente, o que ressalta a importância do conhecimento do histórico de saúde familiar.
Alterações hormonais são um dos principais contribuintes para o desenvolvimento da osteoporose. A menopausa em mulheres e o hipogonadismo masculino (diminuição da produção de hormônios sexuais masculinos) reduzem o estímulo que o estrogênio e a testosterona exercem sobre a massa óssea, agravando o quadro de perda óssea. Além disso, o estilo de vida tem um impacto direto na saúde óssea. Hábitos como tabagismo, etilismo, baixa ingestão de cálcio e vitamina D, sedentarismo, baixo peso corporal e o uso prolongado de certos medicamentos que inibem a formação óssea são todos fatores que aumentam consideravelmente o risco de desenvolver a doença.
Diagnóstico e consequências da osteoporose
Quando a osteoporose não é diagnosticada precocemente, o primeiro sinal da doença pode ser uma fratura. Essas fraturas podem ocorrer em vértebras ou em ossos longos, como o fêmur e o úmero, geralmente em decorrência de quedas de baixo impacto que não causariam lesões em ossos saudáveis. As consequências de uma fratura vertebral ou de fêmur são graves. Segundo o Dr. Luiz Carlos de Paiva Nogueira da Silva, a mortalidade após uma fratura desse tipo pode atingir 22% no primeiro ano, sem considerar as comorbidades e limitações funcionais significativas que podem surgir. Além disso, o risco de sofrer uma nova fratura aumenta progressivamente em pacientes que não recebem o tratamento adequado, evidenciando a necessidade de intervenção rápida.
Para o diagnóstico precoce da osteoporose, a densitometria óssea é o exame de referência. Trata-se de um procedimento simples, com baixa exposição à radiação e custo acessível. A indicação para a realização da densitometria óssea varia: para homens, é recomendada a partir dos 70 anos de idade, ou mais cedo se houver condições de saúde preexistentes (comorbidades). Para mulheres, o exame é geralmente indicado no início da menopausa, por volta dos 50 anos, ou em idades mais jovens se houver fatores de risco identificados.
Tratamento e a importância da prevenção
Para indivíduos diagnosticados com osteopenia ou osteoporose, a atenção à ingestão diária de cálcio é fundamental. A recomendação geral é de aproximadamente 1000 mg de cálcio por dia, preferencialmente obtidos por meio de leite e derivados, que são fontes ricas desse mineral. Manter bons níveis de vitamina D também é essencial, com doses diárias que geralmente variam entre 1.000 e 2.000 unidades, muitas vezes necessitando de suplementação.
O tratamento medicamentoso é indicado para todos os pacientes com diagnóstico de osteoporose confirmado pela densitometria óssea. Em alguns casos, mesmo pacientes com osteopenia podem ser candidatos ao tratamento, especialmente se apresentarem comorbidades relevantes que aumentem o risco de fraturas. As opções terapêuticas têm evoluído significativamente, oferecendo diversas formas de administração, desde medicamentos orais semanais, até injeções subcutâneas diárias ou semestrais, e até mesmo infusões endovenosas anuais, proporcionando flexibilidade no tratamento e melhor adesão.
Conclusão: a relevância da prevenção contínua
A prevenção da osteoporose deve ser encarada como um processo que se inicia na infância, através da adoção de exercícios físicos regulares, uma dieta rica em cálcio e, quando necessário, a suplementação adequada de vitamina D. Manter-se fisicamente ativo e evitar os fatores de risco ao longo de todas as fases da vida são estratégias que trazem benefícios significativos e duradouros para a saúde óssea. A compreensão da função endócrina dos ossos reforça que a saúde óssea é um pilar não apenas da estrutura corporal, mas também do metabolismo geral, impactando diretamente a qualidade de vida e a longevidade.
Com informações do site: Hospital Israelita Albert Einstein
