Produtos brasileiros que até então desfrutavam de isenção tarifária para entrada na Venezuela perderam o benefício, passando a ser integralmente taxados. Essa nova determinação, que surpreendeu comerciantes de ambos os lados da fronteira, está gerando preocupação e afetando o fluxo do comércio bilateral. Desde o dia 17 de julho de 2025, compradores venezuelanos têm reportado à Câmara de Comércio do estado de La Guaira que o sistema Sidunea, utilizado para a declaração de mercadorias, não está processando os certificados de origem de produtos oriundos do Brasil.
Impacto da medida no mercado venezuelano
Na prática, a decisão venezuelana implica em um aumento dos custos para os produtos brasileiros que tentam acessar o mercado do país vizinho. Esse encarecimento resulta em uma perda significativa de competitividade para as mercadorias brasileiras em relação a outros bens importados de diversas origens ou àqueles produzidos internamente na Venezuela. A alteração repentina das condições comerciais impacta diretamente os exportadores brasileiros, especialmente aqueles que dependem da proximidade geográfica e dos acordos comerciais pré-existentes.
Reação e ações das autoridades brasileiras
A medida venezuelana já está sob o monitoramento das autoridades brasileiras. Em uma nota oficial, o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) afirmou que está acompanhando de perto os relatos de dificuldades enfrentadas pelos exportadores do Brasil. Como primeira ação, a Embaixada brasileira em Caracas foi acionada para buscar esclarecimentos junto às autoridades venezuelanas sobre a nova prática tarifária.
O trabalho do Itamaraty está sendo coordenado com o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), indicando um esforço conjunto para lidar com a situação. A CNN, que questionou os órgãos neste sábado, 26 de julho, sobre os avanços no acompanhamento do caso, não obteve retorno até o momento da publicação desta reportagem.
Conforme nota do Itamaraty, divulgada na quinta-feira, 24 de julho, “A Embaixada, por sua vez, já está em contato com autoridades venezuelanas para esclarecer a situação, ao tempo em que o Mdic está em diálogo com representantes do setor produtivo para reunir informações mais detalhadas sobre os casos reportados”. Essa declaração aponta para uma frente de ação diplomática e outra de levantamento de dados junto ao empresariado brasileiro para subsidiar as negociações.
Cartas e posicionamento de entidades comerciais
A Câmara Venezuelana Brasileira de Comércio e Indústria do Estado de Roraima formalizou sua preocupação por meio de uma carta endereçada à embaixadora venezuelana no Brasil, Glivânia Maria de Oliveira. No documento, a entidade expressa que “os exportadores brasileiros e importadores venezuelanos foram surpreendidos com nova determinação do Seniat [equivalente à Receita Federal da Venezuela], na Aduana Principal Ecológica de Santa Elena de Uairén, que passou a não aceitar os Certificados de Origem que acompanham as cargas de exportação do Brasil”. Esse trecho destaca a surpresa do setor produtivo com a alteração súbita de regras.
O MRE (Ministério das Relações Exteriores) reforça que a Embaixada do Brasil em Caracas está buscando, em diálogo com as autoridades venezuelanas, esclarecer a situação, com o objetivo primordial de normalizar o fluxo do comércio bilateral, que é de interesse mútuo.
Preocupação em Roraima e impacto econômico
O governo do estado de Roraima também manifestou sua preocupação com a medida venezuelana. Em nota, o governo roraimense informou que está em contato com o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Fazenda e outras autoridades federais. O objetivo é buscar esclarecimentos sobre a nova política fiscal e explorar alternativas diplomáticas que possam preservar o equilíbrio da relação comercial entre os dois países, vital para a economia local.
A Seplan (Secretaria de Planejamento e Orçamento) de Roraima ressalta a sua apreensão com o movimento do governo venezuelano, que atinge diretamente a produção estadual. A Venezuela é, historicamente, o principal parceiro comercial de Roraima, sendo o destino de mais de 70% das exportações roraimenses registradas nos últimos anos. Essa dependência comercial amplifica o impacto da nova taxação sobre a economia do estado.
A secretaria enfatiza que “Qualquer medida que encareça os produtos brasileiros no mercado venezuelano afeta significativamente a competitividade das nossas mercadorias, com impacto direto sobre os empresários locais, o agronegócio, a geração de empregos e, por consequência, a arrecadação estadual”. Essa declaração ilustra a cascata de efeitos negativos que a medida pode gerar, desde o setor produtivo até a arrecadação pública. A Seplan finaliza reafirmando o compromisso com a defesa dos interesses da economia e o bem-estar comum dos roraimenses, indicando a prioridade em proteger a atividade econômica local.
Contexto das relações comerciais Brasil-Venezuela
As relações comerciais entre Brasil e Venezuela têm sido historicamente complexas e marcadas por flutuações políticas e econômicas. Embora a Venezuela seja um parceiro importante para estados fronteiriços como Roraima, as barreiras não tarifárias, as mudanças regulatórias e a instabilidade política interna venezuelana frequentemente impõem desafios aos exportadores brasileiros. A busca por acordos que garantam previsibilidade e estabilidade comercial é um objetivo constante, dado o potencial de intercâmbio econômico entre os dois países. A dependência de Roraima do mercado venezuelano ressalta a necessidade de diversificação econômica, mas também a importância de manter canais diplomáticos abertos para mitigar impactos negativos.
Conclusão e desdobramentos esperados
A súbita decisão da Venezuela de taxar produtos brasileiros que antes eram isentos coloca um novo desafio para o comércio bilateral. A atuação conjunta do Itamaraty, do Mdic e do governo de Roraima é crucial para tentar reverter a situação e minimizar os prejuízos aos exportadores. A normalização do comércio depende agora da capacidade diplomática de ambos os lados em chegar a um entendimento que restabeleça as condições favoráveis de troca. A situação será acompanhada de perto, pois seus desdobramentos impactarão diretamente a economia de Roraima e a dinâmica das relações comerciais entre Brasil e Venezuela.
Com informações do site: CNN Brasil
